quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Nossa língua, o galego-português

Foi fundada, oficialmente, em 6 de outubtro de 2008, a AGLP (Academia Galega da Língua Portuguêsa).

O evento contou com a presença de importantes acadêmicos como os professores Malaca Casteleiro, de Portugal, Evanildo Bechara, do Brasil e Isaac Estraviz, da Galiza.

A notícia reveste-se de grande importância para todos que entendem que nossa língua é o galego-português e que este, tal como é falado hoje na Galiza, mesmo que acastrapado, eivado de castelanismos, guarda muito mais parecenças com a língua de Camões do que com o castelano.

Vale lembrar que o português é o galego que assumiu o status de língua de um estado nacional chamado Portugal, assim como o castelano é o espanhol e o florentino é o italiano.

Com a emancipação política de Portugal, a Galiza ficou separada e a língua falada dos dois lados do rio evoluiu de forma diferente. Como língua de um estado independente, por sinal o estado nacional com as fronteiras mais antigas da Europa, o galego em Portugal sofreu as influências e acréscimos que todas as línguas podem sofrer em seu desenvolvimento natural. Como língua minoritária, o galego na Galiza sofreu influências por pressão do estado espanhol hegemonizado historicamente por Castela, principalmente depois da vitória do liberalismo uniformizante no século XIX que teve seu ápice autoritário no século XX com a ditadura do Generalíssimo Franco, ele mesmo um galego castelanizado.
Com a ditadura franquista, as línguas minoritárias na Espanha, mormente o galego, o basco e o catalão, foram proibidas e o processo de castelanização acentuou-se. Mesmo depois desse processo, morfologicamente o galego está muito mais próximo do português (galego falado em Portugal) que do castelano.

Com a redemocratização nos anos 70, essas regiões readquiriram suas autonomias e houve um processo de recuperação das línguas locais. Por conta desse processo histórico, o galego chegou ao final do século XX sem uma norma escrita que fosse aceita pelos maiores das letras no país. Somente em 1982, o acordo ILG-RAG (Instituto da Língua Galega e Real Academia Galega) chegou a uma norma castelanizada marcada por um processo político hegemonizado por galegos culturicidas.

Essa norma é contestada por diversos acadêmicos chamados de reintegracionistas que estão agrupados na AGAL (Associaçom Galega da Língua) e, mais recentemente, na AGLP (Academia Galega da Língua Portuguêsa).

Hoje, o sotaque "português" praticamente desapareceu nas gerações mais novas de galegos, mercê da pressão dos meios de comunicação social e do sistema de ensino, mas ainda pode ser percebido em imigrantes pelo mundo afora, inclusive no Brasil, e em aldeias galegas.
Os adeptos do registro do galego acastrapado (castelanizado) defendem que a língua mudou com o tempo e que é impossível a união com o português pois já não são a mesma língua.

Com efeito, o português é o "futuro do pretérito" galego. O galego é da lusofonia (em verdade, galegofonia).

O uso da expressão "galego-português" para designar nossa língua é o mais correto haja vista que, pelas circunstâncias históricas, é dessa forma que podemos referí-la da forma mais precisa. É a forma que melhor expressa seu desenvolvimento.

O argumento de que a oralidade deve ser expressa na língua culta escrita é sofrível porque, se for assim, teremos uma língua a cada esquina em função das diversas formas dialetais que o português em particular e qualquer língua ocidental que tenha expandido-se pelo mundo, ou mesmo não, têm de variantes.

Recentemente o flamengo reincorporou-se ao holandês. A tendência deveria ser a mesma no que tange ao galego em relação ao português. E aí vivemos uma situação aparentemente anacrônica mas fácil de ser explicada. A rigor falamos o galego, mas como dizer para mais de 200 milhões de pessoas que elas falam galego e não português? Ora, o galego difundiu-se pelo mundo na condição de português.
Uma norma mais abrangente, talvez não esse acordo ortográfico mas uma outra, talvez possa incluir nossa língua ainda hoje falada na Finisterra que está, infelizmente, em processo de corrupção cujo ato final será quando seu registo castelanizado passar a ser aceito pelo todo da sociedade galega.

O reencontro com os falantes de nossa língua mãe que estão do outro lado do rio será uma oportunidade única para ambos os lados. Do nosso lado, a de encontrar um tesouro que trará para nosso léxico cerca de 600 a 700 palavras do nosso partimônio comum que só são usadas lá. Para eles, a oportunidade de reinserir-se num universo lingüístico que, apesar de mais de oito séculos de separação, lhes é muito mais afeito que o castelano.

M. L. P. G. C.

Em o dia 30 de setembro de 2010, nesta cidade de São Sebastião.

Observação: o presente texto, também de minha autoria, já foi postado, no todo ou em partes e com pequenas diferenças por revisado que foi agora, em várias comunidades da rede mundial de computadores.