segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Da Galiza ao Timor

Peço licença para opinar sobre um assunto que é mais afeito aos galegos. Peço desculpas antecipadas caso diga algo impertinente.

Grandes mudanças começaram com a minoria da minoria da minoria.

Talvez a diferença seja que, enquanto noutras situações, que não a da Galiza, o povo tinha dentro de si um sentimento afinado ou potencialmente favorável à vanguarda que viria a hegemonizar (dirigir) o processo de mudança, em Galiza existe um dilema de identidade que impede o povo de aderir aos reintegracionistas lusistas. Será necessário um longo período de conscientização (que talvez não fosse necessário na situação que existia no início do século XX) para que o povo galego tenha um sentimento de pertença definido pelo todo de sua história e não pelo preconceito introjetado imposto nas últimas décadas pelos castelanos e seus aliados, culturicidas, galegos castelanizados.

Reparo que os reintegracionistas lusistas têm uma certa cautela em defender suas teses para não ferir suscetibilidades entre reintegracionistas de outros matizes. E acho que têm razão.

Quisera eu que fosse possível sair com a bandeira de um partido pan-lusófono que propugnasse uma única nação da Galiza ao Timor. Isso é inviável no momento.

Mas é possível uma aproximação cultural, pela qual devemos nos esforçar, para que nos conheçamos mùtuamente, todos da lusofonia, em especial Portugal e Galiza, para, a partir daí, o povo galego conscientizar-se de sua real identidade.

Acredito que a maior resistência que se pode opor a qualquer dominação é a cultural, mais ainda que a política. As ações políticas devem ser uma extensão da resistência cultural. Porque o que se visa destruir não são os partidos galegos por mais nacionalistas e radicais que sejam e sim a cultura galega.

Talvez o maior esforço dos castelanos, no seu ímpeto de tentativa de aculturação das outras nações com as quais convivem, tenha sido em relação à Galiza. Por um motivo muito simples: Portugal exerce uma atração natural em relação à Galiza. O mesmo não acontece no caso de Euskadi e Catalunya. Enquanto a maior parte da Portugaliza está fora da Espanha, nos outros dois casos a maior parte dessas nações encontra-se dentro do domínio espanhol. São, para os integristas castelanos, outras Espanhas que têm pedaços menores em França mas que não têm independência. E entendem que esses pedaços em França também deviam juntar-se a essa Grande Espanha.

No caso de Portugaliza o perigo é muito maior para os castelanos. Uma parte dela está independente há mais de oito séculos afirmando, peremptòriamente, que NÃO é uma das "Espanhas".

Mas o que fazer se grande parte dos galegos (maioria?) sentem-se espanhóis? Mudar esse pensamento com conscientização. Como? Difícil dizer. Eis o grande desafio. Começa, certamente, com o estreitamento dos laços culturais com a lusofonia, sobretudo com Portugal. O problema é que Portugal e suas instituições não estão muito interessados. O Brasil, infelizmente, muito menos. Vale lembrar que em pleno regime de terror instalado pelos indonésios contra o povo timorense o Brasil estava a fazer grandes acordos comerciais com a Indonésia, sem o menor escrúpulo.

Como se pode ver, o panorama é árido. Mas a esperança é grande.

M. L. P. G. C.

(Esse texto foi postado, pela primeira vez, há cerca de sete anos no Portal da Agal. Sofreu pequena revisão em relação à primeira versão).

Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, em o 30 de agôsto de 2010.