sexta-feira, 2 de julho de 2010

Fundação

A idéia de criação desse sítio na rede mundial de computadores surgiu a partir do interesse pelas raízes lusas de nossa cultura e em sua necessária valorização. Apesar de surgida na Terra de Santa Cruz, a iniciativa não se prende a esse espaço geográfico até porque o meio que escolhemos para publicizar nossa mensagem atinge todo o planeta e, sobretudo, porque entendemos que existe um Portugal eterno e universal que está presente nos quatro cantos do mundo.

Nesse sentido, essa noção de pertença é potencialmente compartilhada com todos que vivenciam essa cultura e essa tradição não importa onde estejam, mormente pelos que falam o galego-português, aí compreendidas suas formas dialetais, da Galiza ao Timor, de Cruzeiro do Sul à Macau, passando por Casamanse e Ano Bom, Goa e Malaca.

O Portugal da epopéia dos descobrimentos, que deu novos mundos ao mundo mas também, antes, o Portugal forjado no Campo de Ourique e em Aljubarrota, é o que nos alumia. A nação que, em contacto com outros povos, respeitou-lhes os costumes até o limite da ação civilizatória, imperiosa naquele determinado momento histórico, de dilatação da fé católica.

Compartilhamos esse sentimento indizível de saudade de um passado glorioso mas também de um futuro "prometido" que falta cumprir-se.

O nome escolhido para essa grei é o que melhor expressa esse sentir presente em nossas almas e ainda, em larga medida, no imaginário popular e no inconsciente coletivo.

Por algum tempo esse fenômeno sócio cultural, o Sebastianismo, representou, logo após o desaparecimento do Rei em África, a vã, embora ainda verossímil àquele momento, espera por sua volta. Findo o tempo possível da sua existência física, passou para o campo do mito. O mito que, segundo Pessoa, "é o nada que é tudo". Mas todo mito tem, em sua essência, uma verdade. A essência do mito sebastianista, até séculos depois da morte do Rei, é nossa verdade identitária, expressa na utopia do V Império sonhado pelo sapateiro de Trancoso, acalentado pelo Padre Antonio Vieira Ravasco e posto em versos por Pessoa. O Rei pranteado e o mito que lhe sobrevem são o penhor simbólico dessa identidade e a garantia de sua maior expressão, cristalização e perenidade, só perceptível para os que vivem no âmbito da lusofonia.

Em Canudos, sertão da Bahia, em 1897, assistiu-se à última grande mobilização popular em função do mito sebastianista. Os sertanejos liderados por Antônio Vicente Mendes Maciel, por alcunha "O Conselheiro", imbuídos de profundo sentimento católico e monárquico, foram massacrados por tropas da república recém imposta, "manu militari".

Passados mais de 100 anos desse último e exemplar episódio, é comum ouvirmos manifestações no Portugal atual de pessoas ainda preocupadas com o fenômeno sebastianista, atribuindo-lhe culpas pelo atraso, a colocá-lo como expia para suas imcompreensões acerca do país e de si próprios. Falam mesmo em "matar o sebastianismo que há dentro de nós". Ora, não deveria estorvar aquilo que nos define! Não há que lutar contra ele, há que sabê-lo! Por acaso queremos ser outro povo? Por acaso devemos aceitar o que se nos impõem? Não há nada de errado em adotar outra cultura. Entretanto, negar a sua própria cultura implica, necessariamente, em inviabilizar-se como indivíduo e ser pensante.

Antes de ser um apêgo tacanho ao passado de glórias, o "sentimento sebastianista" hoje pode ter a função de resignificar nossa identidade, sendo o húmus que vai fertilizar e revificar nossa matriz cultural de molde a que ela não feneça provincianamente na Europa hodierna e permaneça robusta, depurado do que lhe é forâneo e imposto, não só no velho continente bem como nos mais remotos lugares onde falar a língua de Camões denote a mais forte das identidades de um indivíduo e de um povo.

Destarte, embora, a princípio, o Sebastianismo possa apresentar "aspectos regressitas que constituam um obstáculo ao crescimento de um povo", como bem salienta António Quadros, por outro lado contém um significado psico-social que transborda como fator identitário e que, a um só tempo, como mito e forjador dessa identidade, sendo anti racionalista e anti cientificista por excelência, constitui-se um antídoto eficaz contra a mentalidade que radica no determinismo reducionista, materialista e utilitário de cariz economicista, erradicadora da diversidade e unificadora da estética e do pensamento, seja através do liberalismo ou dos seus rebentos totalitários, a saber, o nazi-fascismo e o comunismo, todos igualmente uniformizantes e igualitários.

Recusamos o Brasil estrangeirado que deu as costas a Portugal, o Brasil republicano do anti-portuguesismo insano, assim como, num outro contexto, o Portugal da "descolonização exemplar", que desgraçou a vida de centenas de milhares de portuguêses de todas as raças e religiões sem querer deles saber o que pensavam. Recusamos a aculturação e o estrangeirismo presentes nas elites que fizeram do Brasil um país sem rumo por ter negado sua história comum com Portugal negando, por conseguinte, suas raízes. Rejeitamos, veementemente, os partidos xenófobos e racistas que surgem nesse Portugal província da União Européia.

A vocação de Portugal é o mundo. Queremos o Portugal universal, não o do Velho do Restelo; o Portugal de Pessoa, não o de António Sérgio. Um Portugal sem medo da poderosa Espanha e que não dê as costas à Galiza, parte visceral e inelutável do seu ser e de seu devir histórico. Enfim, um Portugal que comungue com o resto da lusofonia e que faça da utopia o futuro realizável com a concretização do sonho de Bandarra, não sob o mesmo governo mas através de u`a mesma identidade cultural que, por ter vicejado antes das revoluções ocorridas no Ocidente e a partir de valores inscritos no tempo e na tradição, tem, como principal e mais bela característica, a diversidade.

Ao escolher, emblematicamente, esse nome para nossa tertúlia, pretendemos também externar cabalmente que é impossível ter uma identidade pela metade e que, sobretudo, nossas mais elevadas crenças devem sempre prevalecer sobre a mentalidade utilitária.

Propomos enfim, através desse encontro virtual, a criação de um pólo de irradiação das idéias aqui bosquejadas, somando forças à outras tantas iniciativas.

Entendemos que temos, como tarefas prementes, lutar contra o processo de castelanização da nossa língua na Galiza, seu berço, e impedir que ela morra no Casamanse e nas partes do antigo Estado Português da Índia, seja na sua forma culta, seja na forma de dialetos crioulos.

Não obstante diferenças ideológicas, são todos bem-vindos em função desses objetivos comuns.

VIVA NOSSA HERANÇA COMUM!

PELA VALORIZAÇÃO DA NOSSA CULTURA EM TODAS AS SUAS EXPRESSÕES, PRESERVADAS SUAS RAÍZES!

VIVA A NOSSA LÍNGUA, O GALEGO-PORTUGUÊS!

TODO APOIO AO REINTEGRACIONISMO GALEGO!

VIVA OLIVENÇA PORTUGUÊSA!

SALVEMOS A CULTURA PORTUGUÊSA NO ORIENTE!

APOIO IMEDIATO A TODOS OS IRMÃOS DA LUSOFONIA DEMANDANTES DE INSTITUIÇÕES QUE PROMOVAM NOSSA LÍNGUA!

TODOS JUNTOS, DA GALIZA AO TIMOR!

M. L. P. G. C.

Desde as margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, em esta Mui Leal e Heróica Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro,

Julho de 2010.